Como me tornei escritora


Quando em visita a escolas, crianças e adolescentes costumam me fazer uma pergunta que é recorrente.
"Jacira, quando começaste a escrever? Quando te tornaste escritora?"
Eu sempre acabo narrando um episódio ou outro. Mas deixo claro que tudo começou pelo meu gosto pelos livros. Gosto de ler. Gosto muito e leio muito.
Mas decidi, então, narrar esta história aqui no meu blog. Para que adultos também venham a conhecer.
É esta a história. Espero que curtam.

                                    
Como me tornei escritora
(uma  história nada ficcional)

Eu vivia numa casa com pai, mãe e mais cinco irmãos. Era a caçula. Os mais velhos já estavam terminando o Ensino Médio. Apenas uma irmã, 3 anos mais velha que eu , compartilhava das brincadeiras que, na época, tinha a rua como  espaço preferido das crianças. Eu brincava, mas não enturmava de verdade, era meio arredia, nunca soube pular uma cerca nem subir em árvores como os amigos faziam. Era mais quieta, gostava de ouvir as histórias no rádio e acompanhar  minha mãe entre as costuras. Também gostava de ler – tudo que aparecia, revistas principalmente.
Um irmão frequentava o Ginásio das Dores e um dia, pedi que me  ensinasse a bater na sua máquina de datilografar. Era uma máquina bem antiga. Eu aprendi logo e passei a datilografar tudo que via pela frente. E foi então que me surpreendi com a letra impressa. Literalmente, me apaixonei pela letra da máquina e aí nascia meu primeiro desejo de ter minha letra, impressa como as que eu lia nos livros e revistas.
Naquele tempo não havia muitos livros infantis. Lembro  um livro que ganhei de presente, cujo título e história nunca esqueci. O título era Antero e a história era sobre um menino que não gostava de comer (como eu, que  detestava comer e punha fora a comida quando minha mãe se afastava). Antero morreu levado pelo vento de tão fraco e magro que era. Embora magérrima,  eu não me assustei nem um pouco com a história e segui não comendo nas refeições. Enquanto isto, crescia meu gosto pela leitura.
Dos 12 aos 15 anos li tudo que me foi possível alcançar. Histórias de terror e detetives, livros juvenis, romances – dos de amor aos eróticos. Li autores como Érico Veríssimo, Jorge Amado, Ibsen, Oscar Wilde e outros. Nesta época comecei a escrever poesias. Daquelas poesias ingênuas, nada ficou.

Com o casamento e o nascimento dos filhos, e ainda com o trabalho as leituras escassearam, mas não de todo. Eram leituras para desenvolver a atividade de professora, então lia para e com os alunos. Mais tarde passei à escrita técnica, pelo trabalho na Secretaria de Educação. Foi quando me aposentei, com os filhos já criados, que investi de verdade na literatura. Fiz  oficina literária na PUC, com o mestre Luiz Antonio Assis Brasil. Comecei a me aventurar  em antologias. Mais tarde dei continuidade a novas oficinas literárias e passei a encarar a literatura como profissionalismo. Lancei o primeiro livro – infantil -  em 2005 – Um desafio para Manoel. Em 2007 lancei minha novela Dois no Espelho. A seguir vieram novos livros. Hoje já somam 17 obras entre literatura adulta, infantil e juvenil.  Aliada à escrita, ainda está a professora – o gosto por ensinar e dividir conhecimentos que nunca me abandonou. Ministro oficina literária a novos escritores desde 2007. Atualmente pertenço ao quadro de professores da Editora Metamorfose em Porto Alegre. E ando por aí nas escolas e nas feiras de livro repartindo literatura com crianças e jovens, incentivando a leitura, e com sorte, ajudando a  revelar novos escritores. Tive a alegria de comemorar algumas conquistas de alunos de oficina e, na ocasião, receber seus autógrafos. Sou grata a eles, pelo caminho que escolheram. 


RABISCOS

                                           RABISCOS          No final daquela tarde entro no vilarejo. Caminho por uma ladeira íngreme...