Coroamento na 69ª Feira do Livro de Porto Alegre

 

O ano de 2023 foi um ano pródigo para duas  participantes dos Encontros de Produção Literária que venho  liderando,  com vistas à  produção literária solo. A  indicação para lançamento das obras provenientes  do trabalho literário, em sessões de autógrafos  na  69ª Feira do Livro de Porto Alegre, foi portanto, o coroamento de uma caminhada tensa e laboriosa. Mas as gurias venceram. Etapa por etapa. E o resultado está aí, nas respostas à entrevista que  apresento.  

Obrigada Maurícia Mees e Tusnelda Marins !

Parabéns pelos desempenhos.

Jacira Fagundes  



 

ENTREVISTA

Jacira Fagundes, orientadora e facilitadora do Grupo de Produção Literária, Porto Alegre, pergunta:

 

1.Como surgiu a ideia da obra de tua autoria lançada recentemente na 69ª Feira do Livro de Porto Alegre? Qual o título?

 

Maurícia:

A ideia do livro, cujo título é “Submissão”, surgiu do encontro com uma professora, colega de escola, que escondia o fato de ser de descendência judaica. Com o passar do tempo descobri que ela era parente de um ex-namorado judeu que nunca me apresentou a sua família. Escrevi uma noveleta sobre como existem fatos que podem fugir do controle. Com o tempo abandonei aquele texto para escrever algo mais complexo, envolvendo princípios e valores  judaicos numa relação de um casal onde um dos dois não é judeu  e que acaba numa relação de submissão para manter a união.

 

Tusnelda:

Eu participava de uma oficina ministrada pela escritora Jacira Fagundes e, entre diversos exercícios, começamos a trabalhar com um personagem. Depois da oficina já encerrada, eu ainda pensava no nome que dei para o meu personagem, de nome Péricles. Soava tão bem, era marcante. Então, me veio a ideia de criar diversos contos, usando o nome Péricles e ter mais dois personagens, Tobias e Lúcia, sendo que estes nomes  se repetiriam em todos os contos. E assim fiz. Dei à obra o título “Me fala tudo, menos a verdade”, título de um dos contos.

 

2. O que consideraste de maior complexidade na construção e publicação do livro? Por qual razão?

 

Maurícia:

Para poder construir a história onde os desejos da personagem não são atendidos pelo companheiro, tive que fazer muita pesquisa para tentar explicar os motivos. Aquilo que Naida julgava ser preconceito de Yashar, talvez pudesse ser justificado pelos valores e práticas judaicas do personagem. Me perguntava como eu poderia ligar os valores do personagem com o fato de não querer filhos e não casar com uma não judia.

 

 

Tusnelda:

Houve um grande cuidado com a repetição dos nomes dos personagens no sentido de que não causasse nenhuma confusão, que o enredo de cada conto fosse particular e que essa representação de nome idêntico para personagens fosse entendida como é a vida do ser humano em sua infinita diversidade.

 

 3. Existe alguma relação entre fatos ou cenas reais e os acontecimentos vividos pelos personagens na ficção?

 

Maurícia:

Sim. A escritora está presente em alguns aspectos como no caso da personagem Naida ser estudante de Letras. Muitos fatos vividos surgiram como ideias para desenvolver cenas. A cena da mãe com cinco filhos na rua Dr. Flores, por exemplo, foi presenciada por mim um pouco antes de escrever aquele capítulo. Naida estava sofrendo cada vez mais com o fato de Yashar não querer filhos e quando viu uma jovem mãe com cinco filhos, tem uma reação que vinha temendo a um certo tempo, como quando viu um bebê dentro do carrinho no restaurante. Muitas das cenas partem da realidade e acabam totalmente ficcionadas.

 

Tusnelda:

Em dois contos utilizei fatos acontecidos comigo e com minha família. Em todos os demais, é pura ficção.

 

4. Podes aquilatar o tempo dedicado à construção da obra, do início até o fechamento para publicação?

 

Maurícia:

Iniciei em 2010 com uma noveleta, que foi abandonada. Em 2015 em um curso da Metamorfose, o professor Marcelo Spalding  nos desafiou a escrever um projeto de escrita. Retomei a ideia, então com uma narrativa longa. Desenvolvi o início e o fim. Desde então fui inserindo partes, geralmente nas férias de verão, acrescentando, cortando, e reescrevendo.  Quando julguei que faltariam ainda alguns anos de trabalho, minha revisora disse que estava bom, com apenas alguns senões. Sendo que no início de 2023 dei por concluído. Daí iniciaram-se as várias releituras com vistas a melhorar a escrita.

 

Tusnelda:

Alguns contos já vinham alinhavados na oficina anteriormente feita. A criação dos demais e a revisão dos rascunhos de outros contos demorou cerca de um mês e meio. O ano restante foi utilizado na revisão da obra, da sua editoria, na finalização gráfica, na escolha da capa.

 

5. O quanto de satisfação te trouxe o processo como um todo?

Maurícia:

Apenas algumas partes me agradaram e considerei concluídas, outras, no entanto, foram mais trabalhosas e, talvez, necessitassem mais criatividade.

 

Tusnelda:

Muita satisfação. As histórias me vêm rapidamente, sem dificuldades de elaborá-las. É gratificante ver alguém lendo teu livro, encontrar nas redes sociais um comentário crítico muito favorável, e a sensação de ser o autor de um livro que será lido por leitores que jamais conhecerei também é boa. Um pouco de minha arte permanecerá na memória literária de muitas pessoas

 

 

6. Que mensagem gostarias de deixar para teus prováveis leitores?

 

Maurícia:

 

Quero lembrar as palavras de Mahatma Gandhi que deixei na epígrafe. Naida viveu uma relação de submissão devido a sua própria fraqueza. Mas ao perceber que não havia mais esperança, que estaria fadada a viver uma vida sem conseguir realizar seus sonhos, conscientizou-se de que ninguém, além dela mesma,  tinha o poder de mudar  sua vida, só dependia dela sair de trás daquela porta de aço que se fechara a sua frente.

 

 

Tusnelda:

 

Ler livros é refinar o gosto, desenvolver capacidade crítica e argumentativa, é olhar para o mundo com outros olhos, porque a cada experiência de leitura ele se torna mais nítido

 

7.   Terias algo mais a acrescentar a esta entrevista? Apresenta!

Mauricia:

O personagem Yashar parte de um modelo real e acrescido de imaginação para servir à estrutura do romance. As características estendidas ao modelo real servem para gerar o conflito na história. Desde o início decidi que ele seria um personagem plano para levar Naida a tomar uma decisão no final. Apesar de dizer que ama Naida, não abre mão de suas convicções, não muda com as circunstâncias, não hesita.

Já, Adelinde é um personagem construído em torno de um modelo real bastante caricato no seu aspecto físico e forma de ser. Este personagem pouco tem de criação, é mais uma reprodução de uma pessoa, acrescido de algumas características comportamentais de outros modelos.

 

 

 

RABISCOS

                                           RABISCOS          No final daquela tarde entro no vilarejo. Caminho por uma ladeira íngreme...