É assim, o novo costuma se apresentar coberto por nuvem de fumaça. Algo nebuloso e fantástico e por vezes aterrorizante como uma anunciação. Quanto menos próximo do olhar comum e conhecido, mais o novo se constitui na expressão do apocalipse. A história revela a trajetória da humanidade nas constantes transformações pelas quais teve de passar e aderir, mediante descrença, medo e insegurança. Contraditoriamente, mediante efeito de fascínio, paixão e cobiça. Em nossos dias, a alta dose de rejeição acontece desde com as experiências nucleares até o restrito setor da moda. Mas a sedução e os interesses individuais asseguram a novidade e a humanidade por fim agradece.
Nas artes, o novo não se faz diferente. Clássicos e modernos, seguidores e inovadores, veem convivendo em harmonia nas galerias de arte e estantes de livros, salvaguardadas as diferenças. Com o advento da Internet, tanto a arte visual quanto a arte literária, saíram – a primeira das telas e dos formatos tridimensionais, a segunda do papel – para a telinha do computador. Olhares cépticos se expandem e imagens e textos alcançam visibilidade num clique onde a relação espaço/tempo pode ser irrelevante.
Os arautos das novas tecnologias proclamam a mais funesta revelação acerca do destino do objeto livro, à semelhança do destino da humanidade: o fim. Asseguram, e esta é uma discussão a que venho assistindo regularmente, que o nosso velho conhecido livro – objeto impresso em papel, sensível ao manuseio e também ao olfato – tende a ser banido de nosso convívio. Não mais editoras nem livrarias nem distribuidoras. Sebos, talvez, para os que resistirem? Bibliotecas, colecionadores, museus? Já as vanguardas se postam longe da polêmica – nada substituirá a emoção do toque, do cheiro, da leitura ao sabor de pausas, do transporte do livro pelas calçadas e parques, dos marcadores entre as páginas. São os quixotescos sonhadores que não admitem nem se aventuram a leituras em outros suportes que não o papel; desconfiam de impropriedade, vulnerabilidade e inconsistência que apostam girar em torno do digital.
Sou curiosa por natureza e aprecio a experimentação; o novo me seduz. Talvez estes sejam pontos que me impulsionam para os diferentes caminhares da literatura que faço – conto, miniconto, novela, crônica, poema visual; literatura direcionada ao adulto, literatura direcionada ao pequeno e jovem leitor. Até o momento meus textos fizeram parte de coletâneas e livros impressos, e também de periódicos e revistas. O gosto pelo novo me levou a publicar na web – criei meu site pessoal e logo a seguir o blog, e ainda divulgo textos em outros tantos espaços da rede. Acredito que a tecnologia me inseriu no espaço universal onde estou confortavelmente instalada, sem exigência de privacidade.
É hora então de anunciar um livro novo, com textos selecionados entre os muitos publicados em sites, revistas e jornais. Pequenos Notáveis – seleção de crônicas e minicontos é o mais novo livro de minha autoria, meu primeiro livro digital. Experimento o novo formato em novo suporte com intensa expectativa e antecipo que a leitura não será em nada inferior às leituras que leitores convencionais fizeram de meus livros impressos. Apenas diferente – o clique na seta ordenando o abrir de páginas e a gratuidade.
Quanto ao texto, a mesmíssima qualidade dos demais. E de resto, a promessa de novos livros, impressos e digitais intercalados, depositando fé em vida longa. Para ambos.
Este texto está publicado no
http://www.artistasgauchos.com/