RABISCOS
No final daquela tarde entro no
vilarejo. Caminho por uma ladeira íngreme e sinuosa à procura do antigo casarão
de minha infância. Paro por um instante imaginando escutar o burburinho das
cirandas rompendo o breu da solidão. Sem a luminosidade de antes, ele está lá ,
humilde e abandonado. Parece sussurrar cicatrizes adormecidas na escuridão dos
destroços espalhados em úmidas varandas que guardam memórias em segredo.
Esgueirando-me por entre o assombro do
silêncio e as paredes desgastadas pelo tempo, procuro meus rabiscos de criança:
nuvens, sol, pingos de chuva, estrelas e até um coração. Porém, apagaram-se os
rastros. Ficaram apenas as três
andorinhas de porcelana azul, presas no mesmo lugar que minha mãe deixou.
Nesse momento, as lembranças me empurram
e me embalam em névoas tingidas de saudade. E só o tempo se encarregará de
estilhaçar para bem longe esse sentimento teimoso de regresso ao passado, ao provocar a volta à
memória.
Maria
Terezinha Lanzini
Escritora
e
Fotógrafa
Terezinha querida! Que encanto ler este teu conto. Curto em tamanho de texto, porém grande em sentimento.É bem lá pra trás do horizonte que a gente se encontra consigo mesmo. E como descreves até com facilidade, este encontro sempre próximo, sempre vívido, intenso, profundo. Meus parabéns!
ResponderExcluirGratidão, Jacira.
ResponderExcluirParabéns! Muito lindo!
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