São muitas as razões que fizeram da época natalina um tempo de expiação. Mas a idolatria pelas coisas materiais e a falta de grana, sem dúvida, desbancam qualquer outra razão que se possa apontar.
Porém, uma luz surge no fim do túnel para resolver o impasse da obrigação de se presentear a todos os familiares e a todos os amigos e colegas, de escola, da academia, do trabalho, da aula de judô, do coral, dos torneios de fim de semana, das rodadas de cerveja, e por aí vai. É uma luz que pretende ser divertida revelando uma brincadeira para gente grande: “o amigo secreto”. O problema é que gente grande leva a questão do presente muito a sério e nem sempre gente grande sabe brincar. Senão vejamos:
Nem sempre o “amigo secreto” é “o amigo”, aquele, daquela forma de amizade nossa velha conhecida mas jamais ultrapassada.
Se o amigo secreto é um velho amigo, ele não segura o contentamento e passa a dar pistas descaradas para o outro, e o que era para ser secreto passa à revelação pública e bem antes da hora.
Pior é a escolha do presente. Se o amigo secreto está no primeiro caso – o do amigo que não é o amigo – então, coitado do presenteado. Mas o amigão pra valer do amigo secreto que é amigo, também enfrenta uma barra: como conjugar o presente desejado e até merecido, com o mirrado valor do presente combinado?
Há histórias tristes de presentes que ficaram tão secretos que nunca chegaram às mãos do candidato a presenteado. Ou de objetos mal amados que surgiram das sombras e se transformaram, do dia para a noite (geralmente a troca de presentes dá-se em jantares), em desajeitados presentes de última hora. Uma lástima que seus tempos de glória sejam curtos. Logo, logo, eles passarão a habitar fundos de armários, e, com sorte, serão lembrados no próximo Natal. Passando das mãos de um amigo para outro amigo, e para outro, sucessivamente até chegar, por azar, ao primeiro amigo que deu início à corrente. Este, ao reconhecê-lo, dará um fim à trajetória infeliz, arremessando com fúria o objeto indesejado na lixeira para juntar-se a resíduos nada recomendáveis.
E o que era brincadeirinha pra gente grande ficar feliz vira disputa entre quase desafetos.
Resta erguer a taça de espumante e gritar em coro com cara de contente: Feliz Natal!!!!!
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