O
Minuano
Jacira Fagundes
“Aqui há ventania à noite.
E
de vez em quando as janelas batem como em histórias de fantasmas...”
O vento soprou forte e fez bater os
caixilhos da vidraça. Embaixo das cobertas, a menina virou para a parede e
encolheu-se. Puxou o acolchoado mais junto ao corpo e tentou cobrir a cabeça.
Menos os olhos, que conservou abertos, atenta aos movimentos no escuro. Uma
rajada violenta escancarou as venezianas, jogou-as para fora e para dentro, um
assovio estridente encheu a peça. A mãe, na cama ao lado, despertou com o
barulho. Levantou e fechou-as. Passou a tranca na janela. Pronto, falou
baixinho, já parou. Tenta dormir, criança.
Bem junto ao quarto cessou o trotar
do animal. O vento voltou a uivar, cada vez mais insistente. O pai apeou do
cavalo, o salto incerto fez eco no chão e misturou-se ao barulho do vento. Passos
trôpegos invadiram o quarto. Toda a peça ficou de repente impregnada do cheiro
do pai: fumo e pinga. E bosta de bicho. Sons inconfundíveis vieram da cama de
casal. A menina, meio tonta, meio alerta, comparou-os ao silvar do vento. Aos
gemidos das almas vagando pela coxilha em noite de vendaval. Teve medo. Cobriu
a cabeça por inteiro, mas não conseguiu abafar os soluços. A mãe veio de mansinho.
Aconchegou as cobertas:
Não precisa ter medo, filha. É só o minuano lá fora.
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