Homenagem póstuma ao imortal José Saramago

Em 18 de junho de 2010 morre o imortal José Saramago, nome que deixa marca na contemporaneidade com sua literatura polêmica e inovadora. Uma das minhas preferidas, pela inovação na forma, pelos diálogos intermediando a narrativa, pela extrema atenção exigida do leitor.

Leio Saramago saboreando cada frase, cada parágrafo, busco aproximação do sujeito-autor, tento segurar em minhas mãos o tanto de possibilidade que o texto me oferece e contribui para meu ofício de escritora.

Escrevi a crônica abaixo. Foi publicada no jornal RSletras de setembro de 2009. Hoje a escolho para homenagem ao grande e imortal José Saramago.








Do blog ao livro



Há quem afirme que blog é para quem quer agitar, se expor e fazer confidências online; só bobagens anunciadas. Talvez tenha sido assim no início, com a proliferação de todo tipo de blogs fazendo da Internet um campo minado por palavras vazias e inúteis postadas em diários descuidados, vulgaridades e bate-bocas infindáveis.
Hoje a internet é espelho do mundo e os blogs se aperfeiçoaram para mostrar excelência. Não foi à toa que gente de estirpe enveredou pelo caminho da profusão blogueira e fez bonito. Falo do contingente de escritores reconhecidos que até pouco tempo o leitor só encontrava em espaços Vips das grandes livrarias. Falo de escritores premiados, dentre eles um Nobel, do além-mar, José Saramago.
Pois o que se conhece do blogueiro Saramago ainda é pouco. Que a mulher dele, Pilar, criou uma página na Internet para que ele escrevesse o que desse na telha, nos momentos de fastio literário provavelmente. Mas Saramago é escritor; e escritor só escreve literariamente porque pensa literariamente. Daí que no blog de Saramago provavelmente (falo provavelmente porque conheço os livros, não conheço o blog), foram postadas pérolas em formato de textos breves.
O blog oferece uma forma diferente de expressão que chega a muitos destinatários em tempo exíguo. Nada se compara à potencialidade do virtual, seja texto ou imagem. Escritores e artistas não resistiram ao assédio, embora reconheçam que o espaço da Internet é terra de ninguém, isento de confiabilidade e proteção onde o autoral se perde com facilidade. Mesmo assim, bons escritores continuam escrevendo, textos curtos é verdade, porque leitores de blogs parecem não resistir a textos longos ou novelas ou romances. Novamente a questão da contemporaneidade; velocidade e distância ditando normas.
Trazendo um pouco mais da história do blogueiro Saramago, sabe-se ainda que ele postou em sua página textos variados que relatam episódios de viagens, ao Brasil inclusive, algumas críticas a políticos, reflexões, registros, depoimentos e impressões. Ao fim e ao cabo, um belo arsenal de escritos que a partir de agora estarão bem acondicionados num livro, digamos, de verdade. Um livro, uma brochura revelando instigante capa, objeto nosso velho conhecido a oferecer-se com vagar aos olhos e mãos do leitor. O Caderno, este o título do livro que salta do mundo virtual para o real como simples comando copiar/colar de um programador de textos.
O blog de Saramago continua na tela do computador, percorrendo livre o espaço virtual criado. E o livro se organiza: páginas numeradas e textos em sequencia possibilitando o uso de marcador nas pausas de leitura. Do blog ao livro, uma ação procedente que agrada a uns e a outros.
Definir o que é melhor, não me atreveria. Aprecio os meios eletrônicos, a Internet, os blogs e os sites que acondicionam a boa literatura. Não só os visito regularmente, faço presença com um depoimento, uma crônica. O Orkut e o Facebook são vitrines onde realizo chamadas para meu ofício de escritora. Mantenho e atualizo meu site e o que ali posto recebe o mesmo empenho e a mesma qualidade que dedico aos livros que venho publicando anualmente.
No momento, ainda não me ocorre publicar em livro matéria postada no site ou no blog, porém não descarto tal possibilidade. Saramago prova que a ação é apenas uma diferença de suporte – a tela do computador ou o papel. Se o computador mostrou a qualidade literária, por que não formatar a mesma qualidade literária no objeto-livro? Há leitores e leitores. Há os que aguardam as postagens e se beneficiam com a gratuidade. E há os que apreciam o folhear das páginas e não se incomodam com pagar o preço.

Um comentário:

  1. Que boa reflexão Jacira, penso que os blogues estão aí para revolucionar a comunicação, nunca se escreveu e leu tanto... Não se trata de dizer, na minha opinião,de que seja melhor ou pior do que o Livro, mas sim de compreensão da Época em que vivemos e penso sim que no blog está o caminho do Livro...

    Um abraço amigo e carinhoso e muito bom conhecer teu espaço e tua escritura.

    Carmen Silvia Presotto
    www.vidraguas.com.br

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